16 de jul. de 2012

O DESENVOLVIMENTO DA COMPETÊNCIA LEITORA TENDO COMO APORTE AS LENDAS CAPIXABAS



Meri Nadia Marques Gerlin

1 INTRODUÇÃO
Tomanik (2004) dá visibilidade a processos de pesquisas sociais nos quais o cientista participa da vida e do cotidiano das populações pesquisadas, apresentando esse tipo de atividade como sendo “[...] realizada dentro de um contexto social, sendo influenciada, ou mesmo determinada por este contexto” (TOMANIK, 2004, p. 169, grifo do autor). Numa experiência como essa o cientista social sofre influencias, tendo em vista suas próprias convicções e interesses do grupo com o qual mantém contato, estabelecendo uma relação de pesquisa que não é baseada na neutralidade.
Essa forma de fazer pesquisa requer uma postura de diálogo por parte do pesquisador, podendo este assumir uma perspectiva de trabalho pautada na interdisciplinaridade, que se atualiza no campo das abstrações teóricas, do estabelecimento das metodologias, mas também nas intervenções que as disciplinas promovem no meio social (GOMES, 2001). Mesmo presente nos ambientes educacionais, ligados à pesquisa e técnica, após tanto tempo ainda a interdisciplinaridade pode ser relegada ao ostracismo imposto pelo pensamento positivista. Todavia, ainda representa uma articulação entre a teoria e ação direcionada para constituição da Práxis no campo da disciplinaridade, apresenta-se como uma exigência imposta pela contemporaneidade (PINHEIRO, 2007).
Diante do exposto seria indicado agregar a essa dinâmica uma atitude transdisciplinar, já que as ações da pesquisa além de se abrir para o diálogo com outras disciplinas, deve estabelecer contato com “[...] as artes, a literatura, o conhecimento popular, as religiões e Filosofia, buscando mostrar uma nova visão da realidade, percebida além das fronteiras” (PINTO, 2007, p. 113) das próprias disciplinas.
Ao partir de uma perspectiva de pesquisa no campo da Ciência da Informação entendida como sendo trans e interdisciplinar “A questão é saber distinguir bons temas, capazes, ao mesmo tempo, de sustentar uma mobilização e propiciar a geração de informações proveitosas” (TOMANIK, 2004, p. 208) para a sociedade com a qual se faz pesquisa.
No intuito de contribuir com as demandas informativas e educativas da sociedade com a qual a pesquisa estabelece contato, nesse momento compartilha-se o tema de interesse dessa pesquisa, que é a competência leitora e a narrativa oral, o que permitiu durante a disciplina Metodologia de Pesquisa em Ciência da Informação, ministrada pelo professor André Ancona, delinear a seguinte questão de estudo: como pensar a disponibilização das lendas capixabas de forma que se possa chegar aos diversos tipos de ambientes educacionais, tendo como finalidade contribuir com a competência leitora na chamada sociedade da informação?  
O tema da pesquisa abre espaço para um diálogo com as necessidades dos sujeitos da Região Metropolitana da Grande Vitória (ES) e autores como Benjamin (1996), Novaes (1968), Le Coadic (1996), Chartier (1994), Simeão (2012), Cuevas (2008), Gasque (2011), Thompson (1992) e outros que tornam possível buscar pressupostos teóricos para suprir o questionamento da pesquisa.

2 DESENVOLVIMENTO
As narrativas são importantes para o desenvolvimento dos sujeitos da Região Metropolitana da Grande Vitória (ES), ou seja, dos municípios em que será realizada a pesquisa, ao contribuir para a compreensão de aspectos sociais, históricos, ambientais, educacionais e outros pertencentes ao universo capixaba. A aposta de escrita desse texto então reside na potencia da utilização de informações relacionadas às lendas, de forma a desenvolverem a competência leitora nessa região ao utilizar, com isso, métodos inspirados na História Oral.
Ao pensar na narrativa oral como uma prática em extinção para uma comunidade como a Região Metropolitana “[...] a memória deve, antes de mais nada, servir para acentuar um sentimento de identidade comum, de modo que episódios de divisão e de conflito caiam no esquecimento (THOMPSON, 1992, p. 191, grifo do autor)". Assim, pretende-se com a História Oral buscar uma variante considerada legítima de quem presenciou as narrativas das lendas ou que narre ou que pelo menos dele tenha alguma variante que seja discutível ou contestatória nesse sentido, pois afinal “a experiência que passa de pessoa a pessoa [e que] é a fonte a que recorrem todos os narradores” (BENJAMIN, 1996, p.198).

2.1 A HISTÓRIA ORAL E COMPETÊNCIA LEITORA
Informação é definida por Le Coadic (1996, p. 05) como “[...] um conhecimento inscrito (gravado) sob a forma escrita (impressa ou numérica), oral ou audiovisual”. Em torno desse conceito, o autor apresenta um cenário do progresso técnico e social, diante da explosão da informação, que se fundamenta no poder criativo da linguagem e do raciocínio lógico. O exposto resulta na compreensão da
[...] importância da comunicação verbal da informação. [Porém,] Com o advento da escrita, a comunicação passou de oral a escrita. Isto teve como consequência, por um baixo custo energético, multiplicar a informação (cópia de manuscritos, impressa, fotocópia) e memorizá-la, permitindo assim exteriorizar, primeiro nas bibliotecas, uma das funções do cérebro humano, que é a memória. Essas operações de multiplicação e memorização explicam uma boa parte do que se costumou chamar de explosão da informação (mais exatamente a explosão da quantidade de informação) (LE COADIC, 1996, p. 7). 
Com o “[...] advento da eletrônica (que se traduziu pela transição dos suportes materiais para suportes imateriais), seguido da informática e do desenvolvimento da comunicação de informações a distância (telecomunicações) [...]” houve a amplificação e o armazenamento de enormes volumes de informações (LE COADIC, 1996, p. 07). Mudanças foram causadas com a chegada das novas TICs que acabaram contribuindo para o rompimento das barreiras. Essa realidade acaba por criar um admirável mundo novo de produções.
Nessa direção Dudziak (2003, p. 23) expõe que no cenário de uma ampla e caótica disponibilidade de informações, estando incluída nesse processo a Internet, várias são as barreiras relacionadas ao seu acesso. A autora inclui nesse processo o desconhecimento dos mecanismos de recuperação e apropriação da informação. Nesse ínterim surge a Information Literacy, conceito que engloba muitas definições e interpretações, conforme a área de conhecimento na qual se insere.
Tendo em vista as relações que comumente são estabelecidas com a competência no século XXI, principalmente no que se refere ao que atualmente é denominada de competência leitora trabalhada em diversos ambientes educacionais (família, escola, biblioteca, comunidades etc.), entende-se que esse tipo de competência é atravessada pela alfabetização, letramento e competência informacional (GUASQUE, 2012).
Ao pensar em concepções de trabalhos que envolvam competência leitora, é possível afirmar que “[...] a capacidade de ler e interpretar textos é [inteiramente] necessária numa sociedade letrada [...]” (CAMPELLO, 2009, p. 71). O indivíduo/grupo deve ler e compreender diversos tipos de textos, informativos ou literários, para tornar-se capaz de adquirir competências em informação. Daí surge uma necessidade de os pais, bibliotecário, membros de associações de moradores, professores capacitar não apenas os sujeitos com os quais estabelece contato, mas também capacitar-se constantemente ao longo do processo de educação.
Pontua-se que modelos de Alfabetização Informacional (ALFIN) devem ser criados para apoiar atividades “focando o desenvolvimento de conhecimentos e habilidades em pesquisa” (SIMEÃO; MELO, 2009, p. 64) para o uso efetivo de uma informação que faça parte do cotidiano dos sujeitos. Nessa perspectiva, entende-se que o papel da instituição de ensino, formal ou informal, reside na preparação do indivíduo para que, autonomamente possa aprender ao longo da vida. A frase recorrente leva a colocação de Cuevas (2008, p. 10) quando expõe que essa preocupação é um dos aspectos mais relevantes de forma a propiciar ao cidadão formação contínua. Sendo esse objetivo um elemento principal da transformação educativa:
[...] A grandes rasgos se trata de implantar el modelo de “aprender a aprender”, es decir, ofrecer al estudiante unos conocimientos básicos que se complementarán con una serie de habilidades o destrezas que, conjuntamente con el desarrollo de una serie de actitudes concretas, facilitarán, una vez finalizados los estudios secundarios, o en su caso, superiores, que El estudiante esté capacitado para ejercer sus conocimientos y, paralelamente, actualizarlos.
Cuevas (2008), nesse sentido, auxilia na apropriação do modelo que gira em torno da Alfabetização em informação para a competência leitora (ALFINLEE) com a finalidade de refletir o uso efetivo da informação. Uma informação que seja constituída pelo cotidiano dos leitores, deve contemplar competências em leitura: para o acesso, uso e avaliação da informação; para usar diferentes modalidades de leitura; para ler tendo em vista a necessidade e o prazer; para adaptar-se em diferentes espaços de leitura, presenciais e virtuais.
Diante desse contexto, qual seria o papel da História Oral para essa pesquisa? Tendo em vista a realidade das comunidades capixabas com as quais se estabelecerá contato, inseridos numa sociedade que vive a era da tecnologia de informação e comunicação?
O interesse em disponibilizar as lendas por meio da fonte oral é caracterizada como “[...] registro de qualquer recurso que guarda vestígios de manifestações da oralidade humana” (MEIHY; HOLANDA, 2007, p. 15). Sendo importante pontuar que "A construção e a narração da memória do passado, tanto coletiva quanto individual, constitui um processo social ativo que exige ao mesmo tempo engenho e arte, aprendizado com os outros e vigor imaginativo (THOMPSON, 1992, p. 185)".
No caso de uma pesquisa que envolva o resgate das lendas capixabas é necessário pensar na constituição de um estudo relacionado com o estabelecimento de diálogos, ao levar em consideração, para além das disciplinas envolvidas as informações contidas nas narrativas, buscando com isso criar novas propostas, perspectivas para a produção de métodos no campo da Ciência da Informação. Essa proposta requer do pesquisador e dos colaboradores uma negação da tendência de hipervalorização dos próprios campos de atuação, na qual
Cada ciência estuda um aspecto particular da realidade. Isto faz com que, isoladamente, nenhuma delas seja capaz de traduzir a realidade toda, ou de fornecer explicações e sugerir alternativas para qualquer aspecto da vida social” (TOMANIK, 2004, p. 198). 
Quais as implicações então da utilização do método da história oral para a comunidade da pesquisa? Qual a representatividade dessa metodologia para o campo da Ciência da Informação? A importância da História Oral é incontestável, já que como metodologia possibilita dar voz aos sujeitos da sociedade que comumente não são ouvidos, portanto aparece como um desafio aos mitos consagrados da história segundo Thompson (1992). Para esse autor as narrativas “estão sujeitas a variações quando mudam as necessidades sociais de seus narradores” (THOMPSON, 1992, p. 153), o que requer pensar em alternativas para a realidade brasileira e mais especificamente capixaba.
Assim sendo, para qualificar a pesquisa como história oral, são apontadas, pela literatura, algumas possibilidades de utilização. Dentre elas, destaca-se a história oral como: ferramenta; técnica e metodologia (MEIHY; HOLANDA, 2007, p. 64). Utilizá-la como ferramenta seria não constituí-la como um objeto específico de pesquisa, tratando-o como um recurso adicional, um instrumento a mais, ou um mero instrumento. Já a sua utilização como técnica, seria uma forma de oferecer suporte para a realização das entrevistas, configurando esse processo como um apêndice formalizado, devendo supor, para isso, que no projeto haja uma documentação paralela, escrita ou iconográfica.
Parece então mais apropriado para a realidade desta pesquisa, utilizá-la como metodologia ao considerar a história oral mais do que uma técnica ou ferramenta, quando, os métodos, nela compreendidos, indicam procedimentos, caminhos específicos, determinantes, para obtenção de um método de pesquisa que criará efeitos esperados e estabelecidos para a realidade da Região Metropolitana, em função das hipóteses de trabalho (MEIHY; HOLANDA, 2007).
Diante da possibilidade de escolha entre os gêneros distintos história oral de vida e temática, caracteriza-se a pesquisa como história oral temática, devido ao fato de esta pesquisa girar em torno de um propósito que é o de resgatar informações relacionadas às lendas capixabas, tendo em vista é claro as experiências dos sujeitos da Região Metropolitana.  “Exatamente porque o que mais vale em história oral de vida são as versões individuais dos fatos de vida [...]” é o motivo da não adoção dessa opção (MEIHY; HOLANDA, 2007, p. 34).

          2.2 NARRATIVA E HISTÓRIA ORAL
Novaes (1968) realizou um importante trabalho de registro das lendas do Espírito Santo, classificando esse tipo de narrativa como típicas dessa região, entretanto, pontua a autora que as histórias resgatadas não podem ser consideradas como sendo puras, pois
Cada narrador acrescenta-lhe pormenor e movimento, e a terra ambiente conquista aos temas universais uma nacionalização inevitável. Fauna e flora substituem os elementos naturais afastados e a lenda viaja, muitas vezes, ao redor do mundo (NOVAES, 1968, p. 11).
Frente o possível resgate de “textos com contextos” (FREIRE, 1997) que as lendas constituem ao carregar aspectos característicos da Região Metropolitana, desse modo, surge uma proposta de utilização da lenda que “[...] passou a ser considerada como um produto inconsciente da imaginação popular [...] na qual um personagem, sujeito a um determinado contexto histórico, sintetiza os anseios de um segmento social [...]” (COELHO, 2003, p. 18).
Perante o acervo folclórico desse Estado, outra aposta que o trabalho carrega também reside na crença de que a narrativa oral ainda é uma prática que persiste em pequenas comunidades da Região Metropolitana da Grande Vitória (ES) que, mesmo na dita sociedade da informação, ainda dedicam-se a essa arte artesanal, que perante os avanços da modernidade se encontra em extinção conforme pontua Benjamin (1996). 
Talvez porque a arte de narrar torna-se cada vez mais rara, seja parte fundamental da transmissão de uma experiência no sentido pleno, cujas condições de realização estão em extinção na sociedade moderna. A figura do contador que transmite um saber aos seus ouvintes a cada dia torna-se mais difícil na contemporaneidade, o que pode ser explicado como um declínio da transmissão de informações por meio da arte de narrar.
Benjamin (1996) expõe ainda que a narrativa não se interessa em transmitir uma informação ou um relatório, e sim, mergulhar na vida do narrador que imprime na história contada a sua marca, como a mão do oleiro na argila de um vaso. Nessa perspectiva, ao contrário de quem apenas relata, o narrador inicia uma história descrevendo os fatos.
A história oral é um procedimento que auxiliará na construção de fontes e documentos e registros das narrativas resgatadas por meio dos testemunhos, um exemplo disso é a técnica de transcriação das narrativas após o resgate que visa trabalhar textos e imagens para a disponibilização. Assim, versões e interpretações sobre as lendas capixabas poderiam embasar o trabalho com a competência leitora na região e em outros espaços geográficos já que se pretende disponibilizar as informações na Internet. Porém, a coleta das memórias durante o processo de entrevistas assume como compromisso social a devolução/disponibilização dos resultados do desenvolvimento da pesquisa, o que é condição básica de um projeto fundamentado nesse tipo de metodologia.
Tendo em vista que a realidade é complexa um mérito da história oral é o fato de que a maioria das fontes permite que se recrie a multiplicidade original de pontos de vista acerca das histórias narradas (THOMPSON, 1992). A utilização da metodologia que ocasionará em métodos de coleta das informações que cada sujeito detém acerca das lendas, não pode ocasionar em fatos contados hegemonicamente por meio da escrita, como resultados de pesquisas que geralmente partem de uma única visão, que desqualificam os grupos que dela participam. Uma experiência científica não se apresenta com contornos deterministas, muitas vezes não carrega explicação razoável ou uma máxima que dela se possa extrair imediatamente, daí a necessidade de levar em consideração os acontecimentos narrados, que vão de encontro com os métodos tradicionais.

4 À GUISA DE CONSIDERAÇÕES
Tendo em vista a problemática e as questões trazidas neste texto, identificar aspectos teóricos necessários para pensar a adequação de um repertório de lendas capixabas no ambiente virtual torna-se uma ideia potente, tendo em vista a finalidade de contribuir com a competência leitora pela via da disponibilização desse gênero textual oral. Entretanto, essa discussão fornece um tecido para outras discussões, também no campo da Ciência da Informação e de áreas afins.
Desse modo, é necessário encontrar formas de disponibilizar as informações sobre as lendas de forma a propiciar competência leitora, alcançando sujeitos de diversos espaços tempos educacionais, formais e informais, já que na atualidade a Internet possibilita a essas instituições recebam novas informações numa velocidade jamais imaginada as informações. “Com o texto eletrônico [ao seu favor], a coisa muda. Não somente o leitor pode submeter o texto a múltiplas operações (pode indexá-lo, colocar observações, copiá-lo, desmembrá-lo, recompô-lo, deslocá-lo etc.), mas pode ainda tornar-se seu co-autor” (CHARTIER, 1994, p.192).

Resgatar, então, textos e imagens eletrônicas relacionadas com as lendas, aparece como uma estratégias para a comunicação e mediação de uma diversidade de aspectos sociais e culturais do povo capixaba, inserindo essa pesquisa no campo da Ciência da Informação ao apresentar como base a trans e interdisciplinaridade, assim como, considerar as demandas da sociedade (LE COADIC, 1996).

REFERÊNCIAS:
BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. SP: Brasiliense, 1996.
CAMPELLO, Bernadete. Letramento informacional: função educativa do bibliotecário na escola. Belo Horizonte: Autêntica, 2009. 80 p.
CHARTIER, Roger. Do códige ao monitor: a trajetória do escrito. Estudos Avançados, vol.8, n.21, p. 185-199, 1999. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-40141994000200012&script=sci_arttext. Acesso em: dez. 2012.
COELHO, Maria do Carmo Pereira. As narrações da cultura indígena do Amazônia: lendas e histórias. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (tese). 2003. São Paulo.
CUEVAS, Aurora. Competencia lectora y alfabetización en información: un modelo para La biblioteca escolar en la sociedad del conocimiento.  Revista Ibero-americana de Ciência da Informação (RICI), v.1 n.1, p.3-20, jan./jun. 2008.
DUDZIAK, Elisabeth Adriana. Information literacy: princípios, filosofia e prática. Ciência da Informacão, Brasília, v. 32, n. 1, p. 23-35, 2003.
FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: três artigos que se completam. São Paulo: Cortez, 1997.
GOMES, Henriette Ferreira. Interdisciplinaridade e Ciência da Informação:
de característica a critério delineador de seu núcleo principal. DataGramaZero - Revista de Ciência da Informação,  v.2  n.4,   ago. 2001. Disponível em:  http://www.dgz.org.br/ago01/Art_04.htm. Acesso em: mai. 2012.
LE COADIC, Yves-François. A ciência da informação. Brasília: Briquet de Lemos, 1996.
MEIHY, José Carlos Sede Bom.; HOLANDA, Fabíola. História oral: como fazer, como pensar. São Paulo: Contexto, 2007. 176 p.
NOVAES, Maria Stella de. Lendas capixabas. São Paulo: FTD, 1968. 162 p.
PINHEIRO, Lena Vânia Ribeiro. Pilares conceituais para mapeamento do território epistemológico da ciência da informação: disciplinaridade, interdisciplinaridade, transdisciplinaridade e aplicações. In: Virgínia Bentes Pinto; Lídia Eugênia Cavalcante; Casemiro Silva Neto (Orgs.). Ciência da Informação: Abordagens Transdisciplinares, Gêneses e Aplicações. Fortaleza: Edições UFC. 2007. p. 71-104.
PINTO, Virgínia Bentes. Interdisciplinaridade na Ciência da Informação: aplicabilidade sobre a representação indexal. In: Virgínia Bentes Pinto; Lídia Eugênia Cavalcante; Casemiro Silva Neto (Orgs.). Ciência da Informação: Abordagens Transdisciplinares, Gêneses e Aplicações. Fortaleza: Edições UFC. 2007.
SIMEÃO, Elmira. O modelo de comunicação extensiva e as implicações no contexto da comunicação científica: metodologia para mensuração de indicadores do formato eletrônico em rede. In: CONFERÊNCIA IBEROAMERICANA DE PUBLICAÇÕES ELETRÔNICAS NO CONTEXTO DA COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA, 1., 2006, Brasília. Anais... Brasília: Universidade de Brasília, 2006. Disponível em: http://repositorio.bce.unb.br/handle/10482/994. Acesso em: 15 dez. 2012.
SIMEÃO, Elmira Luzia Melo Soares.; MELO, Cristiano Oliveira. Alfabetização em informação para a capacitação do agente comunitário de saúde no Brasil: proposta de mediação baseada no modelo extensivo e colaborativo. RECIIS – R. Eletr. de Com. Inf. Inov. Saúde. Rio de Janeiro, v.3, n.3, p.58-66, set., 2009.
TOMANIK, Eduardo Augusto. O olhar no espelho: conversas sobre a pesquisa em Ciências Sociais. Maringá: Eduem, 2004.
THOMPSON, Paul. A voz do passado: história oral. RJ: Paz e Terra, 1992.

14 de jul. de 2012

DETALHAMENTO DA BASE TEÓRICA





Meri Nadia Marques Gerlin

Tendo como objeto de pesquisa a lenda capixaba, para iniciar o estudo pretendo utilizar o trabalho de NOVAES (1968) que registrou as narrativas no Espírito Santo no século XX. Todavia, outras obras regionais e nacionais serão buscadas para entender aspectos conceituais e causais da utilização das narrativas em comunidades que, mesmo na dita sociedade da informação, ainda dedicam-se a essa arte artesanal, que perante os avanços da modernidade se encontra em extinção conforme pontua Benjamin (1996).
Tendo em vista as relações que comumente são estabelecidas com a leitura no século XXI, principalmente no que se refere a competência leitora buscada em diversos ambientes educacionais (família, escola, biblioteca, comunidades etc.), inicio um levantamento bibliográfico para entender que esse tipo de competência é atravessada pela alfabetização, letramento e competência informacional (CUEVAS, 2006; SIMEÃO, 2006 e GUASQUE, 2012).   
Resgatar então as lendas, que são estratégias para a comunicação e mediação de uma diversidade de aspectos sociais e culturais do povo capixaba, insere essa pesquisa no campo da Ciência da Informação que apresenta como base a trans e interdisciplinaridade, assim como, as demandas da sociedade (LE COADIC, 1996). Registro ainda que as lendas serão resgatadas por meio da adaptação de métodos da História Oral (THOMPSON, 1992), a fim de realizar uma pesquisa participante com o cotidiano dos municípios da Região Metropolitana da Grande Vitória (ES), sendo estes delineados como campo da pesquisa (aos quais ainda serão selecionados para esse trabalho com história oral temática).
Após essas etapas, parte dos textos e imagens serão armazenadas em mídia digital, com a finalidade de criar protótipo do banco de lendas, disponibilizando, com isso, possibilidades de leituras extensivas (CHARTIER, 1998) para os sujeitos, com os quais desejo estabelecer diálogos acerca da competência leitora pela via da narrativa oral.

BASE TEÓRICA :
BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. SP: Brasiliense, 1996.
CHARTIER, R., CAVALLO, Guglielmo (Org). História da leitura no mundo ocidental, vol. 1. Coleção Múltiplas Escolhas. Editora Ática, 1998.
CUEVAS, A. Alfabetización en información y lectura en los nuevos entornos educativos. In: Miranda, A.; Simeão, E. Alfabetização digital e acceso ao conhecimento. Brasília: Universidade de Brasília, 2006. p. 79-95.
GASQUE, Kelley Cristine Gonçalves Dias. Letramento Informacional: pesquisa, reflexão e aprendizagem. Brasília: Faculdade de Ciência da Informação/Universidade de Brasília, 2012. 183 p.
SIMEÃO, Elmira. Comunicação Extensiva e Informação em rede. Brasília: Editora Departamento de Ciência da Informação e Documentação, Universidade de Brasília, 2006.
LE COADIC, Yves-François. A ciência da informação. Brasília: Briquet de Lemos, 1996.
NOVAES, Maria Stella de. Lendas capixabas. São Paulo: FTD, 1968. 162 p.
THOMPSON, Paul. A voz do passado: história oral. RJ: Paz e Terra, 1992.

Alterações do projeto da pesquisa




ETAPAS
PROJETO DE PESQUISA
ANTIGO
NOVO



TÍTULO
A COMPTÊNCIA LEITORA NA BIBLIOTECA ESCOLAR: CRIAÇÃO, DISPONIBILIZAÇÃO E USO DO BANCO DE LENDAS DA REGIÃO METROPOLITANA DA GRANDE VITÓRIA (ES)



A INFORMAÇÃO CONTIDA NAS LENDAS CAPIXABAS: UMA PROPOSTA DE TRABALHAR COM A COMPETÊNCIA LEITORA POR MEIO DA ORALIDADE NA REGIÃO METROPOLITANA DA GRANDE VITÓRIA (ES)




TEMA
Competência leitora e biblioteca escolar
Competência leitora e narrativa oral

PROBLEMA
Como viabilizar a competência leitora por meio da disponibilização das lendas capixabas no ambiente escolar?
Como pensar a disponibilização das lendas capixabas de forma que se possa chegar aos diversos tipos de ambientes educacionais, tendo como finalidade contribuir com a competência leitora na chamada sociedade da informação?
OBJETIVO
Viabilizar uma base de lendas capixabas, tendo como foco o desenvolvimento da competência leitora nas bibliotecas escolares do nível fundamental na Região Metropolitana da Grande Vitória (ES).

Pensar a disponibilização das lendas capixabas de forma que se possa chegar aos diversos tipos de ambientes educacionais, tendo como finalidade contribuir com a competência leitora na sociedade da informação.
METODOLOGIA
a) levantamento de referencial teórico acerca do tema; b) resgate das lendas por meio de técnicas da História Oral; c) discussão da práxis bibliotecária e sua relação com o uso das lendas e competência leitora d) criação de um ambiente digital denominado banco de lendas; e) armazenamento e disponibilizar material recolhido.
a) realização de levantamento bibliográfico sobre a competência leitora e narrativa oral; b) trabalho de campo para resgate das narrativas por meio da adaptação dos métodos da história oral temática; c) elaboração de um protótipo do Banco de Lendas da Região Metropolitana da Grande Vitória (ES); d) num espaço de educacional disponibilização digital de textos e imagens de forma que o modelo possibilite diálogos sobre a competência leitora pela via da oralidade nessa região.

2 de jul. de 2012

Para que serve, afinal, ciência?


Fonte da imagem: http://versatilrp.files.wordpress.com/2011/04/pesquisa-ilustracao2.jpg


Para que serve, afinal, a ciência? Basta pesquisar as lendas capixabas ao recorrer aos métodos da Ciência da Informação? Diante dessas questões, surge a possibilidade de discutir a seguinte citação: "a realidade é sempre mais complexa do que podemos perceber; por isso pesquisamos. Ela é sempre diferente do que gostaríamos que fosse; por isso tentamos modificá-la” (TOMANIK, 2004, p. 218).

A realidade não é estática, então, os conhecimentos produzidos sobre ela devem ser capazes de acompanhar e de refletir mudanças (TOMANIK, 2004). Diante dessa colocação, destacam-se as imagens do filme Matrix (1999), ficção cinematográfica na qual a máquina é a representação de um sistema artificial que aprisiona e manipula a mente das pessoas. Na ficção, há escolha entre a pílula azul e a vermelha. A primeira mantém o sistema de dominação por meio da sua tecnologia e a outra possibilita enxergar o mundo como realmente ele é. Assim, diante dessa metáfora torna-se possível pensar na pesquisa como uma pílula que abre uma porta para a realidade vivida? Ou, como uma Matrix que conduz o pesquisador para percepções do desejado, porém, do não vivido?

Na verdade, não há uma receita mágica, uma pílula que defina o que é a ciência e os seus benefícios em qualquer campo de atuação, inclusive na Ciência da Informação. A sua plataforma de trabalho deve ser cunhada na realidade, ao constituir-se como um emaranhado de dúvidas, impressões provisórias e de informações parciais. “A questão é saber distinguir bons temas [e problemas], capazes, ao mesmo tempo, de sustentar uma mobilização e propiciar a geração de informações proveitosas” (TOMANIK, 2004, p. 208) para a sociedade. Nesse sentido, faz-se necessário estabelecer contato com o mundo, com os sujeitos envolvidos no processo, sendo que, saberes e fazeres de uma pesquisa são caminhos para o diálogo e para a superação das dificuldades que possam surgir.

Trabalhar os problemas de um projeto ao partir de uma única perspectiva ocasiona no risco de produção de pesquisas com visões distorcidas da realidade. Qualquer tentativa de investigação social esbarra em problemas complexos, o que exige por parte do pesquisador  conhecimentos de várias áreas de atuação. No caso da pesquisa de lendas capixabas na Região Metropolitana da Grande Vitória (ES) é necessário pensar na constituição de um estudo multidisciplinar, o que requer do pesquisador e dos colaboradores uma negação da tendência de hipervalorização dos próprios campos de atuação. “Cada ciência estuda um aspecto particular da realidade. Isto faz com que, isoladamente, nenhuma delas seja capaz de traduzir a realidade toda, ou de fornecer explicações e sugerir alternativas para qualquer aspecto da vida social” (TOMANIK, 2004, p. 198). 

"O recurso metodológico da divisão artificial da realidade deve dar lugar, aqui, a um outro procedimento, o da recomposição dos conhecimentos, se pretende-se conhecer a realidade tal como ela está, para tentar transformá-la no que gostaríamos que fosse" (TOMANIK, 2004, p. 198). Todavia, o compromisso do pesquisador com o grupo é considerado como o divisor de águas nessa breve reflexão, porém, não há nenhuma receita pronta e uma boa dose de resistência à frustração também pode ser necessária durante a trajetória. Torna-se, então, o momento da realização de planejamentos e pesquisas dialógicas. Por que não pensar numa definição de ciência ao partir da perspectiva do diálogo? Essa outra questão dará pano para manga, ou melhor, pano para outros tecidos, narrativas, pesquisas...

REFERÊNCIAS:

MATRIX. Direção: Andy Wachowski; Lana Wachowski. Elenco: Carrie-Anne Moss; Keanu Reeves; Laurence Fishburne; Hugo Weaving e outros. Roteiro: Andy Wachowski; Lana Wachowski. EUA: Silver Pictures; Village Roadshow Productions; Warner Bros, 1999.


TOMANIK, Eduardo Augusto. O olhar no espelho: conversas sobre a pesquisa em Ciências Sociais. Maringá: Eduem, 2004.