2 de jul. de 2012

Para que serve, afinal, ciência?


Fonte da imagem: http://versatilrp.files.wordpress.com/2011/04/pesquisa-ilustracao2.jpg


Para que serve, afinal, a ciência? Basta pesquisar as lendas capixabas ao recorrer aos métodos da Ciência da Informação? Diante dessas questões, surge a possibilidade de discutir a seguinte citação: "a realidade é sempre mais complexa do que podemos perceber; por isso pesquisamos. Ela é sempre diferente do que gostaríamos que fosse; por isso tentamos modificá-la” (TOMANIK, 2004, p. 218).

A realidade não é estática, então, os conhecimentos produzidos sobre ela devem ser capazes de acompanhar e de refletir mudanças (TOMANIK, 2004). Diante dessa colocação, destacam-se as imagens do filme Matrix (1999), ficção cinematográfica na qual a máquina é a representação de um sistema artificial que aprisiona e manipula a mente das pessoas. Na ficção, há escolha entre a pílula azul e a vermelha. A primeira mantém o sistema de dominação por meio da sua tecnologia e a outra possibilita enxergar o mundo como realmente ele é. Assim, diante dessa metáfora torna-se possível pensar na pesquisa como uma pílula que abre uma porta para a realidade vivida? Ou, como uma Matrix que conduz o pesquisador para percepções do desejado, porém, do não vivido?

Na verdade, não há uma receita mágica, uma pílula que defina o que é a ciência e os seus benefícios em qualquer campo de atuação, inclusive na Ciência da Informação. A sua plataforma de trabalho deve ser cunhada na realidade, ao constituir-se como um emaranhado de dúvidas, impressões provisórias e de informações parciais. “A questão é saber distinguir bons temas [e problemas], capazes, ao mesmo tempo, de sustentar uma mobilização e propiciar a geração de informações proveitosas” (TOMANIK, 2004, p. 208) para a sociedade. Nesse sentido, faz-se necessário estabelecer contato com o mundo, com os sujeitos envolvidos no processo, sendo que, saberes e fazeres de uma pesquisa são caminhos para o diálogo e para a superação das dificuldades que possam surgir.

Trabalhar os problemas de um projeto ao partir de uma única perspectiva ocasiona no risco de produção de pesquisas com visões distorcidas da realidade. Qualquer tentativa de investigação social esbarra em problemas complexos, o que exige por parte do pesquisador  conhecimentos de várias áreas de atuação. No caso da pesquisa de lendas capixabas na Região Metropolitana da Grande Vitória (ES) é necessário pensar na constituição de um estudo multidisciplinar, o que requer do pesquisador e dos colaboradores uma negação da tendência de hipervalorização dos próprios campos de atuação. “Cada ciência estuda um aspecto particular da realidade. Isto faz com que, isoladamente, nenhuma delas seja capaz de traduzir a realidade toda, ou de fornecer explicações e sugerir alternativas para qualquer aspecto da vida social” (TOMANIK, 2004, p. 198). 

"O recurso metodológico da divisão artificial da realidade deve dar lugar, aqui, a um outro procedimento, o da recomposição dos conhecimentos, se pretende-se conhecer a realidade tal como ela está, para tentar transformá-la no que gostaríamos que fosse" (TOMANIK, 2004, p. 198). Todavia, o compromisso do pesquisador com o grupo é considerado como o divisor de águas nessa breve reflexão, porém, não há nenhuma receita pronta e uma boa dose de resistência à frustração também pode ser necessária durante a trajetória. Torna-se, então, o momento da realização de planejamentos e pesquisas dialógicas. Por que não pensar numa definição de ciência ao partir da perspectiva do diálogo? Essa outra questão dará pano para manga, ou melhor, pano para outros tecidos, narrativas, pesquisas...

REFERÊNCIAS:

MATRIX. Direção: Andy Wachowski; Lana Wachowski. Elenco: Carrie-Anne Moss; Keanu Reeves; Laurence Fishburne; Hugo Weaving e outros. Roteiro: Andy Wachowski; Lana Wachowski. EUA: Silver Pictures; Village Roadshow Productions; Warner Bros, 1999.


TOMANIK, Eduardo Augusto. O olhar no espelho: conversas sobre a pesquisa em Ciências Sociais. Maringá: Eduem, 2004.

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